quarta-feira, abril 28, 2010

Postura sentada X Dor

Como dizia um antigo professor meu: “Não somos mais homo erectus, e sim, homo sentadus”. Bom, nossos trabalhos estão cada vez mais intelectuais do que braçais. Nossa recompensa é um salário mensal, e não um alimento após nossa caça com arco e flecha.

E com a postura sentada cada vez mais utilizada e cada vez por mais tempo, adquirimos certos vícios e problemas novos. Como passamos horas, dias, meses, anos... sentados na mesma poltrona/cadeira, em frente da mesma mesa, utilizando ou não computadores, nosso corpo tenta se adaptar à esta postura, mas nem sempre ele está preparado para tal, causando certas patologias.

E foi exatamente esta postura sentada que um excelente recém-saído do forno artigo estudou. Ele comparou três posturas habituais do nosso dia-a-dia e viu quais músculos que são mais usados, qual movimento é facilitado/dificultado, e quais problemas podem aparecer devido a esta postura.

Eis as estudadas:



Postura “caída”: quadril mais para frente, coluna torácica e lombar relaxadas, enquanto cabeça fica posicionada mais a frente. O estudo diz que a musculatura das colunas cervical e torácica tem que aumentar sua atividade (contração) para sustentar o peso da cabeça para frente, ocasionando em uma força de compressão na região cervical e torácica. O que pode criar um foco de estresse resultando em dor postural.



Postura com região torácica ativada: quadril mais para frente, torácica reta e contraída, com ombros levemente para trás. Esta postura tem um grande trabalho da região torácica, mas uma atividade muito baixa da musculatura lombar e cervical. Postura que causa um leve relaxamento da musculatura posterior do pescoço, mas que gera uma compressão importante na região torácica, além de um desconforto lombar.



Postura ereta: quadril empinado com torácica reta e ombros levemente retraídos. Postura extremamente favorável às colunas lombar e torácica, ativando toda musculatura do dorso e abdômen, sem causar uma sobrecarga desproporcional de qualquer região.

O único grupo muscular que pareceu não ter grande influência com as posturas foi o trapézio. Este músculo que fica no seu ombro e vai até o pescoço, familiar não? Ele é um músculo muito susceptível a tensões do dia-a-dia pode entrar em contratura independente da postura do resto do corpo. E independente do uso de computadores. Musculatura muito ligada à ansiedade, preocupação, angústia, nervosismo, entre outros sentimentos do nosso dia.

Por isso, alterar nossa postura nem sempre é a solução dos nossos problemas. E se precisar alterar a postura, exatamente qual região do corpo está sofrendo mais? Qual postura devo evitar? Eis o papel do fisioterapeuta.


Boa semana a todos



(imagens e fonte: Carneiro JP et al. The influence of different sitting on head/neck posture and muscle activity. Manual Therapy; 15 (2010) 54-60)

terça-feira, abril 13, 2010

É tudo culpa da coluna

Ok, há um certo exagero no meu título. Mas durante minha experiência clínica encontro muitos sintomas (como dor, formigamento, diminuição da sensibilidade local) em diversas regiões do corpo que são provenientes de problemas da coluna. Sabe aquela dor no seu dedão do pé que você passou por diversos médicos e nenhum conseguiu diagnosticar? Pode ser culpa da coluna! Sabe aquele zumbido que você ouve durante dias mais tensos, ou dias que trazem ansiedade excessiva? Pode ser culpa da coluna!

Explico-me. Há um certo termo médico chamado dermátomo. Segundo o dicionário:

         Dermátomo  - Segmento cutâneo inervado por fibras provenientes de uma única raiz nervosa

De uma maneira mais fácil. Entre cada vértebra de nossa coluna saem nervos que vão para as mais diversas regiões do corpo, cobrindo assim o corpo todo. Temos dois tipos principais de nervos, os aferentes e os eferentes. Sendo que um comanda apenas nossos movimentos (eferentes), enquanto o outro comanda nossa sensibilidade (aferentes). Se há na coluna algo que comprima este nervo podemos ter algumas reações desta compressão. Se ela é aplicada nos nervos eferentes, podemos ter um leve ou grave perda de força em um ou vários grupos musculares (mas isso explico melhor em um posto futuro). Agora, se esta compressão é sobre o nervo eferente podemos ter dores ou diminuição da sensibilidade em todos órgãos do corpo. 

Para melhor compreensão:


Agora olhe que simples. Esta nomenclatura C4, T5, L1, S3.... é referente à região da coluna correspondente à saída do nervo. Como cada vértebra é feita de osso denso, os nervos saem da coluna através do espaço entre as vértebras. Ou seja C4 significa o espaço entre a quarta e quinta vértebra cervical (pescoço), T5 significa o espaço entre a quinta e sexta vértebra torácica. E assim por diante. 

Tudo isso para chegar aos dermátomos. Uma dor no dedão do pé, como exemplifiquei acima, pode ser devido a uma compressão do nervo espinal de L4. Um formigamento no polegar pode ser devido a uma compressão do nervo espinal de C6. E assim vai...

Outro exemplo comum na prática clínica: de repente, sem causa nenhuma aparente, aparece uma dor na sua virilha direita. É comum imaginar uma pequena distensão ou contratura da musculatura da virilha. Exames ortopédicos todos limpos, sem nenhuma lesão aparente na região. O ortopedista normalmente encaminhará para a fisioterapia ortopédica. Trata-se a região com alongamentos, fortalecimentos, aparelhos para tirar dor local e a dor persiste. O paciente começa a pesquisar mais... Gastroenterologista para pesquisar se a causa da dor é uma hérnia inguinal (quando o intestino passa por um pequeno túnel e chega perto da virilha causando certo incômodo), e nada. Urologista para a pesquisa de algum problema no aparelho reprodutivo masculino, ou ginecologista no caso das moças, e nada. E então ele vai ao neurologista. Este, por exames complementares, encontra uma compressão no nervo da coluna lombar (dermátomo L1) e encaminha para a fisioterapia específica. 

E é assim que alguns pacientes chegam em minha clínica. Depois de diversas consultas e tratamentos sem grandes melhoras, e com uma dor já crônica. 

Muitos problemas são pontuais e fáceis de encontrar sua causa. Mas em alguns casos é necessário maior pesquisa, e principalmente uma globalização desta pesquisa. Pois como vimos uma dor na virilha pode ser caso ortopédico, gastrointestinal, urológico ou neurológico. É muito mais fácil tratar uma dor sabendo a causa dela, e é um erro muito comum de muitos médicos e fisioterapeutas tratarem apenas o sintoma e não o que causou este sintoma. É mais fácil começar o tratamento a partir do ponto em que sabemos o que causa o problema em questão.