quarta-feira, outubro 13, 2010

O olhar horizontal e a posição da cabeça

Segundo Souchard, nosso corpo protege as hegemonias para sua sobrevivência. Que são algumas funções básicas que o nosso corpo, independente do seu problema mecânico (entenda ortopédico) tenta manter. Respiração, mastigação e corpo ereto são bem conhecidas. Mas uma das hegemonias que o corpo se adapta para manter é o olhar horizontal.

Eis um desenho da posição correta da cabeça, do livro Fisiologia Articular, do Dr. Adalbert Kapandji:



Não importa o quão desequilibrada, ou seja, torta, é a coluna, o corpo sempre tentará manter o olhar horizontal. Facilmente medido pelas linhas imaginárias, descritas no desenho como AN e PM (plano arículo-nasal e plano mastigatório). 

Mesmo com a posição harmônica do desenho, preste atenção na diferença entre os vetores. A letra O significa o ponto de apoio da cabeça na coluna cervical. A letra G simboliza a força da gravidade, que, sentado ou em pé, atua o tempo todo empurrando nossa cabeça para baixo. A letra F simboliza os músculos da parte de trás do pescoço, que devem a todo instante contrabalançar o peso da cabeça que tende a tombar para frente.

Os músculos da nuca (F) costumam ter pontos de dor em qualquer pessoa devido ao esforço que eles fazem durante o dia todo para manter nosso olhar horizontal. E mesmo com a posição correta da cabeça, estes músculos tendem a entrar em leve contratura causando certos incômodos.

Hoje em dia, como passamos muito tempo sentados, e utilizando computadores, nossa cabeça não costuma ter esta posição tão correta. Eis a posição mais comum em meu consultório:



Esta postura do corpo, com a cabeça mais para frente é causada devido às nossas atividades diárias. Um tenista de tanto segurar a raquete com força por horas e horas de treino diário, fica com uma certa dificuldade de abrir os dedos completamente depois. O corpo é muito adaptativo, ele se adapta aos nossos hábitos, se ficarmos com a cabeça para frente durante boa parte do dia quando estivermos sentados ou deitados, ao levantarmos porque ela iria pra trás? Reparem nestas imagens:
       
 

 


Em todas imagens, a cabeça está mais anteriorizada, ou seja, ela está mais para frente do que deveria.
Voltando ao desenho do kapandji, esta posição da cabeça para frente leva o centro de gravidade da cabeça mais para frente (letra G), e, como consequência aumenta o vetor F, que é a força que os músculos da nuca terão que fazer para sustentar a cabeça, para impedir que ela caia para frente. Quanto mais pra frente a cabeça está maior força os músculos da nuca terão que fazer para não deixar a cabeça cair, e esta força é feita durante o dia todo, só diminuindo sua atividade quando estamos deitados e a gravidade não empurra nossa cabeça pra baixo.

Se estes músculos estão sobrecarregados devido à postura errada da cabeça, o resultado será um aumento de tensão nesta musculatura (inicialmente), o que gerará dor/rigidez no pescoço, dor/rigidez nos ombros, dor de cabeça, além de tontura, zumbidos, vertigens... os sintomas podem ser os mais variados.

Trate a sua postura antes de aparecer alguma dor. Se aparecer alguma dor, trate-a antes de virar uma dor crônica. Quanto mais antiga a dor, mais demorado será o tratamento dela. Procure um bom RPGista, ou outro profissional que trabalhe com postura.

Imagens: Kapandji, Fisiologia Articular - Google Images, sites públicos

terça-feira, agosto 17, 2010

Dor Lombar e articulação Sacro Ilíaca


A cintura pélvica é um conjunto de ossos que fica entre a coluna vertebral e os membros inferiores, transferindo o peso do tronco para as pernas e vice-versa. Ou seja, quando estamos em pé parados ou sentados, todo o peso do nosso tronco, braços e cabeça mais a gravidade, é depositado em cima da cintura pélvica, que transmite estas forças para os membros inferiores. E, quando estamos com alguma atividade de impacto – como correr, descer escadas ou rampas, pular – há uma transferência de carga dos membros para a coluna.




Quem faz grande parte desta transferência é a articulação sacroilíaca que atua também como uma atenuadora destas forças. Forças anormais nesta região são causas de uma disfunção da articulação sacroilíaca e podem contribuir para dores lombares inespecíficas ou inexplicáveis. Neste caso, forças anormais podem ser entendidas como: uma perna mais curta do que outra, uma perna mais rodada (joelho pra dentro ou pra fora) do que outra, diferença na maneira de andar (por exemplo, quando mancamos), uma coluna desequilibrada devido às nossas posturas do dia a dia, e por aí vai.




A articulação sacroilíaca é uma articulação com pouquíssimo grau de movimento, mas que tem grande influência na posição e estado das estruturas adjacentes. Muitos estudos dizem que uma adução diminuída do quadril, junto com uma diminuição de rotação axial externa deste mesmo osso, causa uma dor na articulação sacroilíaca. Ou seja, se uma das suas pernas tiver uma diminuição do movimento de adução (movimento de fechar a perna), junto com uma diminuição da rotação axial externa (movimento de rodar a perna para fora), você pode ter ua dor local na articulação sacroilíaca, ou bem espalhada na região lombar baixa.


Evidências recentes têm mostrado que dor lombar baixa pode ser associada com limitações de movimento do quadril, indício que não aparece em nenhum exame radiológico, e constantemente feito pelos fisioterapeutas de terapia manual e RPG. E mais, é importante achar onde está esta limitação, se é culpa das vértebras lombares, do membro inferior ou da própria articulação sacroilíaca. Tais achados irão determinar as técnicas e procedimentos que devem ser utilizados no paciente.

quarta-feira, julho 21, 2010

Paraespinais e suas funções

Nossa coluna vertebral é envolvida por uma grande quantidade de músculos. Músculos que começam no quadril e vão pra coluna, começam na coluna lombar e vão para o ombro, músculos que têm ligação direta com os braços, com a cabeça... e por aí vai. Mas temos muitos músculos que são próprios da coluna, começam e terminam na coluna, e são chamados de paraespinais.



Os músculos paraespinais são os responsáveis por iniciar e controlar todos os movimentos da coluna vertebral. Mas uma de suas principais funções é realizar uma estabilização da coluna, protegendo qualquer estrutura não contrátil (articulações, ossos, discos intervertebrais, ligamentos) de um estresse potencialmente danoso.

A contração destes músculos, de forma geral e global, faz com que fiquemos com a postura ereta. Quando relaxamos todos estes músculos (ou tentamos, pois eles não são completamente relaxados), o corpo cai inteiro para frente, ao contraí-los nossa coluna fica reta atrás. Então estes músculos são requisitados o tempo todo durante o nosso dia a dia, quando estamos em pé ou sentados, mantemos uma certa contração desta musculatura sem descanso.

Como qualquer músculo voluntário do corpo humano, os paraespinais também estão sujeitos à fadiga muscular (definida como falha ou diminuição da força durante atividade de sustentação). A fadiga nos músculos paraespinais causa um déficit em suas funções que levam à perda de estabilidade da coluna, e com isso, uma sobrecarga nas estruturas estáticas da coluna.

Eis mais uma, de inúmeras, razão para nos mantermos ativos. Qualquer exercício físico com leve carga requisita contrações desta musculatura, e com isso, a fortalecem. Eis também uma das funções do RPG (Reeducação Postural Global), fortalecer as musculaturas que estão enfraquecidas. Toda dor, lesão, é causada por uma falta de equilíbrio entre força X alongamento X utilização da região lesada, ou de regiões próximas a esta lesão.

segunda-feira, junho 21, 2010

Círculo vicioso de Souchard

No meu primeiro dia de curso de RPG (reeducação postural global) no lindo Instituto Philippe Souchard (acho que fui a primeira turma que estudou no recém-inaugurado instituto, tudo novinho e com cheiro de cola de fábrica), depois das devidas apresentações, foi colocado no quadro o seguinte desenho:



E a partir deste dia comecei a ver o paciente como um todo, saindo um pouco da linha da faculdade que te ensina a tratar um joelho olhando apenas para o joelho e não para o quadril, um ombro esquecendo completamente da coluna e cotovelo, e por aí vai...

Encare estrutura como o seu corpo, cada região equilibrada com a outra, sustentando seu peso o dia todo e suas atividades específicas do dia a dia. Tudo pode mudar esta estrutura. E uma mudança na estrutura gera um desequilíbrio, que a médio ou longo prazo gerará incômodos como formigamentos, parestesias, e dor.

No gráfico, “formas” diz a respeito da morfologia do corpo, ou seja, estudo científico da estrutura e da forma do nosso corpo. Funções são as nossas atividades tanto do trabalho como de recreação. Tanto a nossa forma, como nossas atividades mudam a nossa estrutura, mudam nosso modo de sentar, andar, ficar parado em pé, etc. Psíquico e somático diz quase a mesma coisa, são alterações do humor ou estresse que mudam nossa postura diária, causando problemas estruturais.

Energia que entra e sai do corpo podemos encarar apenas como alimentação e ar, mas para quem acredita terapias alternativas, esta energia é muito mais do que isso. E a sensibilidade, neste caso, é a sensibilidade do terapeuta para encontrar os pequenos desequilíbrios na estrutura, ou na forma, ou no psíquico do paciente para procurar a cura e correção da estrutura.

O problema não é tão simples. Sempre vamos ao médico/fisioterapeuta/RPGista quando o problema está crônico, e como a estrutura pode alterar o humor e nossas atividades, e, o humor e nossas atividades podem alterar a estrutura, vira um círculo vicioso e saber o que veio primeiro, e é, portanto, a causa do sintoma (formigamento, parestesia, dor) é um bom desafio para o profissional.

segunda-feira, junho 14, 2010

Fáscias e seu tensionamento

                Anatomicamente a palavra “fáscia” designa uma membrana de tecido conjuntivo fibroso de proteção de um órgão ou de um conjunto orgânico; ou também empregada para designar tecidos conjuntivos de nutrição.

                Um conceito criado pelos osteopatas fala que fáscia não representa uma entidade fisiológica, mas um conjunto membranoso, muito extenso, no qual tudo está ligado, em continuidade. Ou seja, uma entidade funcional onde órgãos, músculos, ossos, e outros tecidos estão interligados.

Toda parte branca e os fios brancos entre os músculos representa o conjunto fascial

                O menor tensionamento, ativo ou passivo, da fáscia em qualquer região do corpo, repercute sobre o conjunto. E é exatamente nisso que se apoiam as técnicas modernas de terapia manual.

                Assim como todos os tecidos, o conjuntivo é formado por células conjuntivas: os blastos. E sua função é apenas a secreção de duas proteínas de constituição: o colágeno e a elastina. Como todas as proteínas, as duas renovam-se, mas a elastina é uma forma estável, enquanto o colágeno modifica-se a vida toda.

                Ainda é desconhecido o fator excitante que provoca a secreção de elastina. Por outro lado, o fator excitante para a secreção do colágeno é conhecido há anos: o tensionamento do tecido. Há duas maneiras de secreção do colágeno:
  • ·         Se a tensão é contínua e prolongada, as moléculas de colágeno instalam-se em série.
  • ·         Se o tecido suporta tensões curtas e repetidas, as moléculas instalam-se em paralelo.

Ou seja, o primeiro caso é quando o elemento conjuntivo se alonga, devido a uma força de tração ou alongamento. No segundo, a densificação do tecido, que se torna mais compacto, mais resistente e menos elástico, o que conhecemos popularmente como os nós de tensão.

Muitos problemas dolorosos são decorrentes de tensões anormais que a fáscia suporta. Todo o sistema muscular, ligamentar, capsular, tendíneo tornam-se dolorosos se sua ativação prolonga-se normalmente; trata-se aqui de uma tensão normal e persistente. São raramente dores intensas; em geral são perfeitamente suportáveis. No entanto, sua duração, sua persistência, suas recidivas frequentes tornam-se rapidamente intoleráveis. São essas dores de tensão que fazem o sucesso da terapia manual, que geralmente os médicos não tem armas contra elas.

Fonte: BIENFAIT, M. Fáscias e Pompages Estudo e tratamento do esqueleto fibro. 1999

segunda-feira, maio 24, 2010

Postura e dor

Segundo Kendall: A postura bípede humana pode ser definida como a organização de segmentos corporais que cada indivíduo faz para garantir equilíbrio entre músculos e ossos com capacidade para proteger as demais estruturas do corpo humano de traumatismos e promover coordenação para as diversas necessidades de movimento.

E segundo Nordin: A má postura é uma falta de relacionamento das várias partes corporais, a qual induz um aumento de sobrecarga às estruturas de suporte, podendo resultar em dor.

Mas não se preocupe! você não está sozinho! Por volta de 93% da população mundial apresenta certo desvio postural. E os problemas posturais mais comuns geralmente são devidos aos nossos hábitos e sedentarismo. Mas outros fatores influenciam os hábitos posturais, como comprimento e capacidade de desempenho muscular, resistência, mobilidade articular, deficiências anatômicas, características antropométricas, fatores ambientais e emocionais e idade.

Costumo dizer aos meus pacientes que o fisioterapeuta é o engenheiro do corpo. Nosso grande trabalho é procurar a causa de um desequilíbrio no corpo que pode causar dor, desconforto ou qualquer outro sintoma indesejado. E devido às nossas atividades diárias, tanto no trabalho como no lazer, e até como dormimos, causamos desajustes em nosso corpo todo.

Um grande médico fisiologista comparar nossa coluna com um mastro de navio:



E gosto deste conceito! Temos mais de 30 músculos atuantes em nossa coluna, sendo 30 do lado direito e outros 30 do lado esquerdo. Somos completamente simétricos tendo vista apenas nossos músculos. Só que nossas atividades não são simétricas. Imaginem uma pessoa com a postura perto da perfeição, sem nenhum hábito diário que possa prejudicar esta postura, ela ainda terá um lado dominante. Explico-me: ela usará um braço mais do que o outro por ter mais facilidade com este (destro/canhoto), subirá sempre o primeiro degrau com a mesma perna por ter mais facilidade, chutará uma bola utilizando mais uma perna do que a outra, e por aí vai. Com isso, um lado ficará mais forte do que o outro, já que os músculos do lado dominante será mais fortes do que o lado não-dominante.

Voltemos ao mastro do navio. Se um lado é mais forte do que outro, o músculo deste lado tenderá a puxar um pouco mais a coluna para este lado, pois não há a mesma resistência do lado oposto da musculatura que é idêntica a ela, mas não tão utilizada por não estar no lado dominante do corpo. E com isso geraremos certos desequilíbrios no corpo todo.

E ainda mais, quanto mais sedentários somos, pior esta relação. Quanto menos força um músculo tem para resistir à dominância de outro, pior o quadro, pior a postura, pior será a dor.

A dor não vem diretamente da má postura, e sim, do desgaste que esta causa com o tempo. Uma coluna torta terá inúmeras reações não desejadas. Pode causar artrose, pinçamento da raiz nervosa, bico de papagaio, contraturas musculares crônicas, listeses, entre muitos outros problemas.

Um artigo que gosto muito termina assim: A identificação dos desvios posturais antes que disfunções se desenvolvam é uma proposta de prevenção necessária, que propicia um tratamento mais eficiente, diminuindo a gravidade das complicações. É necessário que a fisioterapia atue não apenas intervindo nas alterações já instaladas, como também orientando e instruindo, de forma a prevenir a sua ocorrência.

Essa atitude preventiva infelizmente é rara entre os brasileiros, e mais, além de não prevenirem como deveriam, costumam buscar ajuda para suas dores não quando estas acontecem, e sim, quando não aguentam mais suportar. Quanto mais tempo tem uma dor, mais deformação seu corpo sofrerá e mais tempo demorará para obter sua cura, se for o caso.

Exercícios físicos equilibrados, atenção à postura diária para qualquer atividade, e uma boa orientação médico-fisioterapêutica... Uma bomba contra as dores atuais e as que podem ser prevenidas. 

quarta-feira, abril 28, 2010

Postura sentada X Dor

Como dizia um antigo professor meu: “Não somos mais homo erectus, e sim, homo sentadus”. Bom, nossos trabalhos estão cada vez mais intelectuais do que braçais. Nossa recompensa é um salário mensal, e não um alimento após nossa caça com arco e flecha.

E com a postura sentada cada vez mais utilizada e cada vez por mais tempo, adquirimos certos vícios e problemas novos. Como passamos horas, dias, meses, anos... sentados na mesma poltrona/cadeira, em frente da mesma mesa, utilizando ou não computadores, nosso corpo tenta se adaptar à esta postura, mas nem sempre ele está preparado para tal, causando certas patologias.

E foi exatamente esta postura sentada que um excelente recém-saído do forno artigo estudou. Ele comparou três posturas habituais do nosso dia-a-dia e viu quais músculos que são mais usados, qual movimento é facilitado/dificultado, e quais problemas podem aparecer devido a esta postura.

Eis as estudadas:



Postura “caída”: quadril mais para frente, coluna torácica e lombar relaxadas, enquanto cabeça fica posicionada mais a frente. O estudo diz que a musculatura das colunas cervical e torácica tem que aumentar sua atividade (contração) para sustentar o peso da cabeça para frente, ocasionando em uma força de compressão na região cervical e torácica. O que pode criar um foco de estresse resultando em dor postural.



Postura com região torácica ativada: quadril mais para frente, torácica reta e contraída, com ombros levemente para trás. Esta postura tem um grande trabalho da região torácica, mas uma atividade muito baixa da musculatura lombar e cervical. Postura que causa um leve relaxamento da musculatura posterior do pescoço, mas que gera uma compressão importante na região torácica, além de um desconforto lombar.



Postura ereta: quadril empinado com torácica reta e ombros levemente retraídos. Postura extremamente favorável às colunas lombar e torácica, ativando toda musculatura do dorso e abdômen, sem causar uma sobrecarga desproporcional de qualquer região.

O único grupo muscular que pareceu não ter grande influência com as posturas foi o trapézio. Este músculo que fica no seu ombro e vai até o pescoço, familiar não? Ele é um músculo muito susceptível a tensões do dia-a-dia pode entrar em contratura independente da postura do resto do corpo. E independente do uso de computadores. Musculatura muito ligada à ansiedade, preocupação, angústia, nervosismo, entre outros sentimentos do nosso dia.

Por isso, alterar nossa postura nem sempre é a solução dos nossos problemas. E se precisar alterar a postura, exatamente qual região do corpo está sofrendo mais? Qual postura devo evitar? Eis o papel do fisioterapeuta.


Boa semana a todos



(imagens e fonte: Carneiro JP et al. The influence of different sitting on head/neck posture and muscle activity. Manual Therapy; 15 (2010) 54-60)

terça-feira, abril 13, 2010

É tudo culpa da coluna

Ok, há um certo exagero no meu título. Mas durante minha experiência clínica encontro muitos sintomas (como dor, formigamento, diminuição da sensibilidade local) em diversas regiões do corpo que são provenientes de problemas da coluna. Sabe aquela dor no seu dedão do pé que você passou por diversos médicos e nenhum conseguiu diagnosticar? Pode ser culpa da coluna! Sabe aquele zumbido que você ouve durante dias mais tensos, ou dias que trazem ansiedade excessiva? Pode ser culpa da coluna!

Explico-me. Há um certo termo médico chamado dermátomo. Segundo o dicionário:

         Dermátomo  - Segmento cutâneo inervado por fibras provenientes de uma única raiz nervosa

De uma maneira mais fácil. Entre cada vértebra de nossa coluna saem nervos que vão para as mais diversas regiões do corpo, cobrindo assim o corpo todo. Temos dois tipos principais de nervos, os aferentes e os eferentes. Sendo que um comanda apenas nossos movimentos (eferentes), enquanto o outro comanda nossa sensibilidade (aferentes). Se há na coluna algo que comprima este nervo podemos ter algumas reações desta compressão. Se ela é aplicada nos nervos eferentes, podemos ter um leve ou grave perda de força em um ou vários grupos musculares (mas isso explico melhor em um posto futuro). Agora, se esta compressão é sobre o nervo eferente podemos ter dores ou diminuição da sensibilidade em todos órgãos do corpo. 

Para melhor compreensão:


Agora olhe que simples. Esta nomenclatura C4, T5, L1, S3.... é referente à região da coluna correspondente à saída do nervo. Como cada vértebra é feita de osso denso, os nervos saem da coluna através do espaço entre as vértebras. Ou seja C4 significa o espaço entre a quarta e quinta vértebra cervical (pescoço), T5 significa o espaço entre a quinta e sexta vértebra torácica. E assim por diante. 

Tudo isso para chegar aos dermátomos. Uma dor no dedão do pé, como exemplifiquei acima, pode ser devido a uma compressão do nervo espinal de L4. Um formigamento no polegar pode ser devido a uma compressão do nervo espinal de C6. E assim vai...

Outro exemplo comum na prática clínica: de repente, sem causa nenhuma aparente, aparece uma dor na sua virilha direita. É comum imaginar uma pequena distensão ou contratura da musculatura da virilha. Exames ortopédicos todos limpos, sem nenhuma lesão aparente na região. O ortopedista normalmente encaminhará para a fisioterapia ortopédica. Trata-se a região com alongamentos, fortalecimentos, aparelhos para tirar dor local e a dor persiste. O paciente começa a pesquisar mais... Gastroenterologista para pesquisar se a causa da dor é uma hérnia inguinal (quando o intestino passa por um pequeno túnel e chega perto da virilha causando certo incômodo), e nada. Urologista para a pesquisa de algum problema no aparelho reprodutivo masculino, ou ginecologista no caso das moças, e nada. E então ele vai ao neurologista. Este, por exames complementares, encontra uma compressão no nervo da coluna lombar (dermátomo L1) e encaminha para a fisioterapia específica. 

E é assim que alguns pacientes chegam em minha clínica. Depois de diversas consultas e tratamentos sem grandes melhoras, e com uma dor já crônica. 

Muitos problemas são pontuais e fáceis de encontrar sua causa. Mas em alguns casos é necessário maior pesquisa, e principalmente uma globalização desta pesquisa. Pois como vimos uma dor na virilha pode ser caso ortopédico, gastrointestinal, urológico ou neurológico. É muito mais fácil tratar uma dor sabendo a causa dela, e é um erro muito comum de muitos médicos e fisioterapeutas tratarem apenas o sintoma e não o que causou este sintoma. É mais fácil começar o tratamento a partir do ponto em que sabemos o que causa o problema em questão.

segunda-feira, março 22, 2010

Posturologia segundo Bricot

Bricot, Bernard Bricot. Gênio! Médico cirurgião, especialista em posturologia, e dentre muitas coisas que ele escreveu em seu excelente livro, eis algumas de suas ideias.

Nosso corpo, seja sentado ou em pé, tem algumas funções complementares como: lutar contra a gravidade para manter a postura ereta, opor-se às forças externas, guiar e reforçar um movimento habitual nosso, e ainda nos equilibrar durante estes movimentos.

Mais de 90% dos indivíduos apresentam um desequilíbrio postural. E ter este desequilíbrio é algo natural pelas atividades que temos, o problema é quando estes desequilíbrios causam patologias em nosso corpo. No desenho abaixo temos 5 exemplos de postura:


Imagem: Bricot, 2004
A.      A. Postura normal
B.      B. Aumento das curvaturas da coluna
C.      C. Região do tronco está mais curvada para trás
D.      D. Tronco inteiro com curvas diminuídas
E.       E. Pescoço, tronco e lombar sem curvatura alguma

Bricot vai longe, diz que a maioria das alterações estáticas estão ligadas às deformações do pé e ao desenvolvimento do passo. Que a postura B está ligada a um pé mais “curvo” e a postura C é reflexo dos pés “planos”.

 

           
Mas tudo culpa dos pés? Que nada! Se as anomalias podais são as principais causas de descompensação postural, elas não são as únicas: a arcada dentária, a pele, a visão podem também modular a posição da cabeça e do tronco.

As conseqüências são numerosas. A curto ou longo prazo aparecerão dores, enrijecimentos e contraturas, diminuição de movimentos das articulações (grande causa da artrose), queda do rendimento muscular, propensão à câimbras, distensões, tendinites, etc.

Compreende-se imediatamente que tratamentos habituais não podem ser satisfatórios, pois se dirigem apenas às conseqüências e não às causas da dor ou sintoma. Somente o tratamento da alteração mecânica postural permitirá a cura do paciente.

Quer saber mais? Leia: Posturologia, Bernard Bricot.

segunda-feira, março 08, 2010

Equilíbrio = Prevenção



Imagem: David Darrow

Devido aos nossos hábitos, aos nossos trabalhos e lazeres, e às nossas individualidades, adquirimos certos vícios posturais que podem ou não ser prejudiciais. Os atletas exigem do corpo um treinamento específico de certos grupos musculares para alcançar seus objetivos, seja melhorar sua performance, tempo, força e com isso diminuir fadiga excessiva, dores após a atividade etc.

Para que nosso corpo consiga realizar o que precisamos, ou desejamos, ele precisa estar equilibrado. Este equilíbrio pode ser alcançado com diversas técnicas muito bem conhecidas e descritas. E previne que criemos uma sobrecarga sobre uma região específica.

Afinal, o que é tendinite, bursite, tenossinovite, miosite, pubeíte, e muitos outros “ites” que encontramos por aí? Grosso modo, são lesões inflamatórias causadas por uma sobrecarga em um ponto do corpo. Esta sobrecarga pode vir de diversas maneiras. Pode ser uma falta de flexibilidade desta região machucada, o que limita a melhor execução do músculo, além de diminuir o suprimento de nutrientes e oxigênio muscular. Pode ser uma falta de força local, o que faz com que o músculo tenha que trabalhar mais do que ele aguenta, e com isso, aparecem pequenas lesões ou rupturas, que acabam formando uma inflamação.

Para evitarmos estas lesões ao máximo, devemos então cuidar do nosso corpo antes, durante e depois da atividade. Um bom equilíbrio entre força e flexibilidade muscular, somado a um trabalho específico para cada atleta, e, principalmente, para cada esporte, pode diminuir o índice de lesões, ou, diminuir o tempo de recuperação de um atleta.

Está sentindo algum desconforto após, durante a atividade? Sente que alguma região não está produzindo como o resto do seu corpo? Já teve lesões repetidas de uma mesma região? Procure um médico e um fisioterapeuta. Procure o equilíbrio que ser corpo precisa para que ele trabalhe da maneira mais eficaz possível.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Os músculos e a coluna

Temos músculos em todas as regiões do corpo. Somos completamente dependentes deles. Completamente! Não há se quer uma posição em que todos os nossos músculos estejam relaxados e sem algum tipo de trabalho. Mesmo quando estamos dormindo há algum grupo muscular que está insatisfeito com nossa posição de dormir. Quem nos mantém em pé? Ossos? Que nada, músculos! Todos movimentos do corpo são dependentes deles. Saiba que para respirarmos não é o ar que entra e enche nossos peitos, e sim, os músculos que abrem os nossos peitos e pela diferença de pressão que atmosférica o ar entra.

Mas porque estou falando de músculos? O corpo é muito adaptativo, todos os estímulos que ele recebe por um longo período, ele se adapta. Se ficamos muito sentado no trabalho, em casa, ou nos nossas atividades de lazer, o corpo se adaptará a postura sentada. Se trabalhamos em pé, ou passamos 3 horas por dia jogando golf (porque não?), ele se adaptará a postura em pé, e ainda, se adaptará à rotação do tronco apenas para um lado, pois ainda está para nascer quem consiga jogar golfe dando tacadas com o lado direito e o esquerdo!

Eis os músculos de nossa coluna:


Imagem: Netter, 1999

Bastante não? Agora veja, somos assimétricos por natureza. Utilizamos mais um braço do que o outro, mais uma perna do que a outra, sentamos em cima de uma perna, cruzamos as duas pernas (mas muitas vezes cada uma de maneira diferente), assistimos televisão no apoio lateral do sofá (experimente sentar no apoio do lado oposto e verá como é estranho), dormimos de barriga pra baixo (a cabeça fica rodada para um lado só a noite toda), e por aí vai...

Só que, nossos músculos da coluna não são assimétricos. Ou seja, cada músculo que temos do nosso lado direito, temos exatamente igual do lado esquerdo. Mas se utilizamos estes músculos de forma diferente, um lado ficará mais trabalhado do que o outro. Em outros termos, um lado será mais forte do que o outro. Se temos duas cordas (entenda músculo) opostas puxando o mesmo segmento (entenda coluna), só que um lado é mais forte que o outro, o que acontece? Nunca brincou de cabo de guerra? Exato! A coluna se entorta para o lado mais forte. E como o corpo é adaptativo, se uma parte da coluna está torta para a direita, ele entortará outra parte da coluna para a esquerda para nos mantermos eretos, e com o olhar horizontal. Exemplos:

Imagem: Kapandji, 2008

E eis a escoliose. É claro que esta é apenas uma das causas da escoliose. E este desequilíbrio muscular da coluna pode gerar outros tipos de problemas, como osteófito (conhecido como bico de papagaio), artroses, hérnias, dores posturais, entre muitos outros...

Trate da sua coluna, procure um equilíbrio. Quer ajuda? Procure um RPGista, e faça uma Reeducação Postural Global.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

A coluna e suas curvaturas

Neste blog descreverei como é a sua coluna. Primeiramente porque conhecer o nosso corpo, e como ele funciona, nos ajuda a trabalhá-lo de maneira mais eficiente. E, além disso, tentarei te ajudar a entender suas dores nas costas, o “lombo pesado”, ou porque sua coluna “trava”. Claro que toda coluna tem suas peculiaridades, mas descreverei o que é uma coluna equilibrada, os problemas mais comuns que podemos ter, e suas possíveis soluções, tanto médicas como fisioterápicas.

Podemos ter diversos tipos de patologias na coluna, que podem ser provenientes de problemas ósseos, musculares, tendíneos, ligamentares, neurais ou até congênitos. Cada uma dessas patologias têm suas características e seus sintomas, algumas vezes o diagnóstico é complicado pois quantificar e localizar a dor nem sempre é uma tarefa fácil.

Mas quanto mais informação, mais fácil fica o diagnóstico, e com isso, o prognóstico. Sem muita demora, eis sua coluna:


Imagem: Netter, 1999

São 33 vértebras, sendo: 7 cervicais (região do pescoço), 12 torácicas (região do tronco), 5 lombares (região do abdômen), 5 sacrais (região do quadril) e 4 coccígenas (nossa cauda sub-desenvolvida). De frente a coluna não apresenta, ou não deveria apresentar, nenhuma curvatura. Caso exista é conhecida como escoliose (assunto para outro post, e longo post):


Imagem: Kapandji, 2008

Agora, olhando de lado, ela apresenta 4 curvaturas normais, que, com nossas posturas diárias, nossos trabalhos, nossos lazeres e atividades, podem estar aumentadas ou diminuídas (ou até invertidas). São elas: lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar, e cifose sacro-coccígena.


Imagem: Kapandji, 2008

Mas calma, com o tempo descreverei tudo com mais detalhes e chegarei às suas dúvidas e\ou curiosidades. Caso tenha interesse em saber de alguma patologia ou peculiaridade da coluna mande suas dúvidas que utilizarei algumas delas para criar novos posts.
Ah! Seja bem vindo.